Seu dinheiro por Adriano Koehler De quem é a culpa pelos juros altos?

Postado por admin 26/02/2025 0 Comentários Economia,

 

Seu dinheiro por Adriano Koehler

 

De quem é a culpa pelos juros altos?

 

Desde o fim de 2024, o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, vem reclamando da política monetária implementada pelo Banco Central do Brasil (BCB). Mais especificamente, Lula reclamava (e continua reclamando) de Roberto Campos Neto, o ex-presidente do BCB, dizendo que ele jogava contra o Brasil. Campos Neto, por sua vez, dizia que as decisões do BCB estavam baseadas na avaliação da política fiscal brasileira e que o aumento da taxa de juros era condizendo com o cenário fiscal e as perspectivas da inflação. Afinal, quem tem razão nessa disputa?

Para poder responder a essa pergunta, é importante saber quais as diferenças entre política fiscal e monetária, e quem é responsável pelo quê. A política fiscal diz respeito ao governo (e todos os seus poderes, executivo, legislativo e judiciário). Ela versa sobre a tributação (impostos) e os gastos dos três poderes, e tem como objetivo influenciar a demanda agregada e buscar o equilíbrio fiscal. A política monetária, por sua vez, é de responsabilidade do banco central de um país, e tem como objetivo estabelecer a oferta de moeda e a taxa de juros na economia para alcançar a meta de inflação estabelecida por alguma autoridade (cada país tem a sua, no Brasil quem fixa a meta de inflação é o Comitê Monetário Nacional, composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central).

 

Do lado da política fiscal, a receita é simples. O governo precisa gastar menos do que arrecada e estabelecer metas realistas de redução do estoque da dívida pública. Nessa operação matemática, o equilíbrio pode vir ou do aumento de impostos (que prejudica a todos, pois gera inflação) ou da redução dos gastos (politicamente impopular entre grupos que tem forte influência no governo, em especial servidores públicos e os poderes legislativo e judiciário). Ao estabelecer e implementar uma política fiscal séria e crível, todos os agentes de mercado entendem que vale a pena investir no país.

 

Do outro lado, o banco central é reativo. Se a política fiscal não é sustentável, ou seja, está havendo mais gasto que arrecadação, o governo precisará tomar empréstimos para pagar suas contas. Ao lançar títulos para cobrir o seu déficit, ele acaba tendo que pagar mais juros pois os agentes financeiros desconfiam da sustentabilidade econômica do governo. E gastar mais também significa aumentar a demanda na economia. Se não há aumento da oferta de maneira alinhada ao aumento da demanda, isso gera inflação. Como uma das metas do banco central é controlar a inflação, o aumento da taxa de juros faz-se necessário para reduzir o ritmo da economia e coibir a demanda. Essa é a teoria econômica clássica, ainda que alguns autores contemporâneos tenham proposto outras formas para esse controle.

 

Logo, o BCB aumentou os juros porque o governo não controlou seus gastos. Simples assim. O que significa que o presidente Lula, quando reclama, esquece de fazer a sua parte. É mais ou menos como o aluno reclamar da nota baixa na prova sendo que ele não estudou antes. E deveria servir de alerta ao presidente o que aconteceu durante a gestão Dilma Rousseff, quando em parceria com Alexandre Tombini a taxa de juros foi baixada na marra, apesar dos sinais de economia aquecida. A redução da taxa de juros a 7,25%, sem nenhum fundamento, gerou inflação alta e os juros tiveram que subir a 14,25% dois anos depois. A inflação só voltou a cair depois disso. Ou seja, não adianta reclamar e não agir.

 

No que isso afeta os seus investimentos? Basicamente, juros altos ajudam todos os produtos de renda fixa – CDBs, LCAs, LCIs, debêntures atreladas ao CDI, Tesouro Direto, letras financeiras. Do outro lado, a renda variável (ações e fundos imobiliários) saem prejudicadas. Afinal por que trocar um rendimento certo por um duvidoso? Claro que isso abre uma oportunidade para quem tem apetite ao risco e visão de longo prazo, e comprar ações agora talvez gere bons retornos no futuro.

 

Por isso, escute os discursos das autoridades e coloque uma pitada de sal sobre eles. Pois na política fiscal, vale o feito e não o falado. E siga atento!

Bons investimentos!

 

Adriano Koehler é jornalista e assessor de investimentos

(adriano@solutioinvestimentos.com.br)

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